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Cuidadores informais o risco e a ansiedade

Têm risco 51% maior de depressão e até 38% maior de problemas de ansiedade

A Ordem dos Psicólogos Portugueses lançou um alertou numa altura em que lança o documento Vamos Falar Sobre Autocuidado dos Cuidadores Informais e apela a melhores políticas públicas nesta área

A publicação reconhece e valoriza o papel essencial de mais de 1,4 milhões de pessoas que prestam cuidados diretos, não remunerados, a familiares, amigos ou vizinhos em situação de dependência.

«Cuidar de alguém pode ser profundamente gratificante, mas também emocional, física e socialmente exigente. Os Cuidadores informais têm risco 51% maior de depressão e até 38% maior de problemas de ansiedade. Mais de 86% dos cuidadores informais são mulheres, e 88,3% reportam já ter experienciado exaustão emocional». Lê-se no documento que aborda as consequências negativas que o cuidar pode ter, nomeadamente:

O cansaço e fadiga, desconforto, lesões musculoesqueléticas como as contraturas, dores lombares e cervicais, fraturas ósseas e hérnias, entre outras, dificuldades em dormir e descansar, capacidade diminuída de autoavaliação do estado de saúde, sistema imunológico enfraquecido, maior risco de doenças crónicas e de mortalidade.

Também maior vulnerabilidade e necessidade de apoio social e financeiro, oportunidades profissionais limitadas, isolamento social involuntário, menor participação em atividades comunitárias, aumento de despesas relacionadas com cuidados (e.g., medicação, consultas, tratamentos), diminuição da satisfação conjugal e agravamento de conflitos familiares.

Há ainda a preocupação, medo, angústia, tristeza, culpa, irritabilidade e o fato de 88,3% dos cuidadores e cuidadoras informais terem referido já se ter sentido num estado de exaustão emocional.

A publicação foca-se também em diferentes contextos de cuidado como para com crianças com cancro, marcado pelo medo e ansiedade, hiper vigilância e sentimentos de culpa; cuidar de uma criança com deficiência, com impacto na saúde mental dos pais/cuidadores, a dificuldade em aceitar a situação, eventual necessidade de se fazer o luto por uma criança que se imaginou e a preocupação com o futuro da criança.

Também o cuidar de sobreviventes de AVC, exigindo conhecimento técnico e adaptação emocional a uma nova realidade ou de pessoas com demência, podendo sentir que cuidam de alguém que já não conhecem e que não os reconhece, sentindo exaustão devido às dificuldades de comunicação e frustração por não conseguir acalmar a pessoa.

Perante este cenário, a OPP reforça o conceito de que o autocuidado não é egoísmo, é uma necessidade e, por isso mesmo cuidadores informais precisam de manter a sua própria saúde física e psicológica para conseguir prestar apoio continuado e de qualidade.

O documento fornece sugestões práticas para autocuidado, designadamente atividades de lazer; entretenimento e cuidado pessoal; atividades de convívio, partilha e pertença; alimentação saudável, sono e exercício físico; participação em redes de apoio, ativismo e grupos de partilha; realizar exercícios de respiração num lugar tranquilo; ou escrever um diário (journaling), de forma livre, sobre o que pensa e sente.

Nota a Associação que oito em cada dez cuidadores informais referem necessidade de apoio psicológico, mas apenas quatro em dez o procuraram. O documento explica como os psicólogos podem ajudar em cada fase do processo, desde a adaptação, à gestão emocional, até ao luto ou ao regresso à vida ativa após o término dos cuidados.

Para quem conhece alguém em situação de cuidador informal, o apoio passa por ouvir, ajudar em tarefas concretas, conhecer a pessoa cuidada e reconhecer o valor do trabalho invisível que é cuidar.

A Ordem dos Psicólogos lança ainda um Policy Brief, roteiro com propostas para os decisores políticos, que passam por estabelecer políticas laborais que garantam o direito à assistência da pessoa cuidada, estabelecer um período alargado de faltas justificadas, licenças de assistência sem quebra de remuneração no apoio urgente ou programado, por exemplo, um subsídio diário de assistência em situações de cuidados de curta ou média duração.

A publicação pode ser consultada em ORDEM DOS PSICÓLOGOS e é acompanhada de recursos úteis, checklists de autocuidado e contactos de apoio, como a Linha de Apoio Psicológico do SNS24 (808 24 24 24) e a Linha Nacional de Apoio ao Cuidador (800 24 22 52).

Alcoutim
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